A nomeação cardinalícia do bispo de
Leiria-Fátima foi, de certeza absoluta, uma surpresa para a maioria daqueles
que se ocupam destas "cousas" da Igreja na sua organização e governo.
O Papa tem vindo a reforçar o papel das “periferias” no Colégio Cardinalício,
bem como o carácter universal da Igreja. Por essa razão é que esta nomeação é
tão surpreendente.
Francisco
é sem dúvida um Papa reformador. Ao nomear um cardeal para Tonga, que eu
próprio tive que procurar no mapa a sua localização, e ao não fazê-lo, por
exemplo, para Veneza, onde antes foi cardeal o Papa João XXIII, revela que quer
uma Igreja próxima dos cristãos e mais humilde no serviço. E sabemos que
enquanto o catolicismo "afrouxa" no mundo ocidental, floresce nessas
periferias como a Ásia ou a África.
Do meu
ponto de vista, esta nomeação tem dois aspetos a salientar: 1º o Pontífice
reconhece em D. António Marto a humildade e a proximidade com que se relaciona
com aos fiéis cristãos, além de plena comunhão com a sua reforma; 2º ao mesmo
tempo revela novamente a sua espiritualidade mariana. É bem conhecida a devoção
do Papa. Basta recordar a forma como confia à virgem as suas deslocações ao
estrangeiro, quando visita a Basílica de Santa Maria Maior, ou então, a nova
festa da Igreja que ainda ontem celebramos pela primeira vez: Maria, Mãe da
Igreja. A mensagem de Fátima ganha assim uma nova dimensão. Estamos em pleno
mês de Maria.
Quanto ao
primeiro ponto, o Papa Francisco já disse repetidamente que o título
cardinalício não é honorífico. Recordo a homília do segundo consistório, em
2014: «Já o diz o próprio nome - cardeal - que evoca o fundamento.
Portanto, qualquer coisa que não é acessório, decorativo, que faça pensar numa
condecoração, mas um eixo, um ponto de apoio e de movimento essencial para a
vida da comunidade. (...) Na Igreja toda a presidência vem da caridade, deve
ser exercida na caridade e tem como objetivo a caridade.»
Do pouco
que conheço de D. António Marto, a simplicidade e humildade são duas
características que se evidenciam num primeiro contacto. Na reação à sua
nomeação estas são bem evidentes, bem como a disponibilidade a colaborar no
governo da Igreja, assim que o Bispo de Roma o solicite, e contribuir nas
reformas iniciadas por Francisco. O bispo de Leiria-Fátima, na referência que
faz ao seu pai, demonstra outra qualidade a que o Papa chama à atenção
frequentemente, a resistência ao orgulho: «O meu pai não gostava muito que
eu fosse padre, mas depois aceitou. Era um homem de fé católica, muito
praticante. Um dia chamou-me à parte, depois da ordenação e disse: ‘lembra-te
sempre que vens de uma família humilde, que não te suba o poder à cabeça’. E eu
sigo este legado que o meu pai me deixou. Nunca me subiu o poder à cabeça nem
aspiro a lugares de poder.»
A
Magnanimidade cardinalícia está em amar sem fronteiras. Quanto mais se alarga a
responsabilidade no serviço da Igreja, mais se deve alargar o coração. Saber
amar sem fronteiras e ao mesmo tempo cada fiel na sua situação particular e com
gestos concretos.
D. António
Marto, faço votos dos maiores sucessos no seu novo serviço a Deus e aos irmãos.
Dr Paulo Vitória, "iMissio"