sexta-feira, 9 de novembro de 2018

SAIR... PROPOR... CONFIAR!



Com as iniciativas que as instâncias próprias acharem por bem levar a cabo, vamos viver, de 11 a 18 deste mês de novembro, a Semana Nacional dos Seminários, sob o lema “Formar discípulos missionários”. Ao longo da história, sempre houve gente livre, disponível e pronta para continuar a obra de Jesus, com entusiasmo feliz e empenhado. Por isso mesmo, nunca faltou à evangelização a capacidade de contornar as dificuldades, os solavancos e os caprichos de cada tempo. Os tempos e as circunstâncias mudam, é verdade, mas a juventude também é fruto de cada tempo e das suas circunstâncias. Sempre houve e haverá gente com muita garra, com muita genica e generosa dedicação à primeira das principais causas do bem comum. Nem sempre, mas regra geral, o primeiro passo para abraçar o gosto pela evangelização dá-se no seio das famílias, dos movimentos, das instituições, das comunidades, dos serviços e dos grupos de ação cristã. Sim, é aí, onde existe uma intensa vida fraterna, onde há caminhos exigentes de espiritualidade e oração, de valorização da Palavra de Deus, de dinâmica sacramental, de experiências de serviço sobretudo aos pobres e de estímulo ao protagonismo juvenil, é aí que se encontram as grandes oportunidades para fazer um caminho mais forte de aproximação à fé e às necessidades da Igreja e do mundo. Se verdadeiramente acompanhados, muitos jovens direcionam melhor as antenas para captar as ondas do Espírito e as surpresas de Deus, interpretam com outra sabedoria os sinais dos tempos e os da própria vida e decidem marcar a diferença fazendo opções de maior exigência. A pastoral vocacional, de braço dado com a pastoral juvenil, é a alma de qualquer evangelização e de qualquer pastoral. As diferentes vocações eclesiais são expressões por meio das quais a vocação batismal se torna um verdadeiro sinal do Evangelho no seio das comunidades, são formas de seguir e testemunhar Jesus, fazem parte da natureza missionária da Igreja.
Quando existe a cultura da oração pessoal e comunitária, quando se vive verdadeiramente inserido na comunidade cristã ou noutros ambientes de fé, quando há uma pastoral vocacional de qualidade, mais facilmente alguém perceberá o Senhor a tocar-lhe no ombro e a segredar-lhe, com ternura, aos ouvidos do coração: - Escuta... Eu estou à porta e bato… vem... segue-Me! - Este convite de Jesus, se é dirigido a todos e a cada um dos batizados, sempre há, como sempre houve, quem o ouça e deseje viver de uma forma mais radical no ministério ordenado ou na vida consagrada. Os jovens, que são a paz em movimento, continuam a ser “revolucionários”, criativos e generosos como sempre o foram. E se são imprescindíveis para o rejuvenescimento dos dinamismos sociais, não o são menos para rejuvenescer o rosto belo da Igreja. Ora, como cireneus desta caminhada de formação dos que aceitam este desafio do Senhor, estão, de facto, os Seminários, não os edifícios, claro, embora também façam falta, mas as comunidades educativas. Nesta Semana dos Seminários, temos muito presente quem neles dedica a sua vida à formação dos alunos, os alunos que os frequentam, as suas famílias, os colaboradores, as comunidades paroquiais, e os benfeitores que rezam, estimulam e partilham os seus bens com os custos inerentes à formação de quem se prepara.
Sem insinuar visões redutoras ou erradas sobre o ministério ordenado, todo o processo educativo para o sacerdócio ministerial procura acompanhar e ajudar os candidatos a que, em total liberdade, possam reconhecer o amor gratuito de Deus e formar o próprio coração à imagem do coração de Cristo, o Bom Pastor. Ele não veio para ser servido, mas para servir, comoveu-se diante das necessidades humanas, foi à procura das ovelhas perdidas, ofereceu a Sua vida por elas. Neste delicado processo formativo, processo que há de continuar presente em toda a vida dos sacerdotes quer na obediência apostólica profundamente inserida na unidade do presbitério e disponível para as necessidades e exigências do povo de Deus, quer na pobreza evangélica em vida simples e austera, quer em castidade no celibato como dom de si em Cristo e com Cristo à Sua Igreja (cf. PdV28-30), neste delicado processo formativo, dizia eu, há, pelo menos, quatro dimensões que interagem simultaneamente: a dimensão humana, que representa a base necessária e dinâmica de toda a vida sacerdotal; a dimensão espiritual, que contribui para caraterizar a qualidade do ministério sacerdotal; a dimensão intelectual, que oferece os necessários instrumentos para compreender os valores próprios do que é ser-se pastor; a dimensão pastoral, que habilita a um serviço eclesial responsável e profícuo (cf. RFIS89). Para que tudo resulte bem neste período transitório mas decisivo para o futuro, não é tempo de acentuar muito aquilo que, mais tarde, se virá a fazer, isto é, a tarefa evangelizadora, embora seja critério de qualidade a ter em conta que haja entusiasmo por ela como pessoas enamoradas por Cristo. Este tempo, o tempo do Seminário, deve ser sentido e vivido sobretudo como um tempo de sério e verdadeiro crescimento pessoal, a todos os níveis da formação integral, para, depois, enfrentar a vida e a missão com responsabilidade e protagonismo saudável e contagiante, gerando vida e esperança. O mundo é exigente, competitivo e complexo, exige humildade e saber dialogar com a cultura e a diversidade de forma competente e aberta, exige coerência de vida e tantas vezes saber perder para ganhar. Só «evangelizadores com espírito» testemunharão, na alegria do Evangelho, a santidade e a misericórdia de Deus.
Embora sabendo que “o principal agente da formação sacerdotal é a Santíssima Trindade, que plasma cada seminarista segundo o desígnio do Pai, seja através da presença de Cristo na sua Palavra, nos sacramentos e nos irmãos da comunidade, seja através da multiforme ação do Espírito Santo” (RFIS125), sabendo isso, não podemos terminar sem deixar uma palavra de muita gratidão e da maior estima para toda a comunidade académica, sim, mas sobretudo para a Equipa de Formadores de cada um dos Seminários de Portugal que colaboram e testemunham os valores próprios do ministério nesta delicada missão da formação sacerdotal.

Antonino Dias
09-11-2018

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Tu és fonte de Vida – Abrantes





Foi a oração “Tu és Fonte de Vida que abrir mais um encontro diocesano de Taizé na Diocese de Portalegre – Castelo Branco.
 Aconteceu em Abrantes, no passado dia 13 de Outubro, a VII edição do Encontro Diocesano de Taizé. Um dia de oração, reflexão, diálogo e testemunho, à semelhança dos outros anos, mas este ano com uma particularidade especial: um tempo de diálogo sobre a Juventude, em comunhão com o Papa Francisco no Sínodo dos Bispos em Roma. Participaram este ano, durante as várias iniciativas, e ao longo de todo o dia, pouco mais de 100 jovens, vindos maioritariamente dos arciprestados de Abrantes, Portalegre e Sertã. 




No momento da manhã, os jovens reuniram-se na Igreja de São João para rezar pela juventude e pelas Vocações. Ao som das orações cantadas de Taizé, os jovens foram desafiados a reflectir as suas raízes, as suas histórias de fé, a relação com Deus, o modo como “usavam” essa relação e esse dom, no seu dia-a-dia. Os jovens rezaram, reflectiram e... partiram para a cidade, em pequenos grupos, para dialogarem e partilharem sobre o que tinham rezado e escutado.

Depois do passeio pela cidade de Abrantes, e após o almoço, chegou o tempo do regresso aos “trabalhos”, que se seguiram na Casa da Boa Esperança. Depois de um tempo de animação ao som do tocar das cordas da guitarra, iniciou-se um tempo de “testemunhos Vocacionais”. Estiveram presentes para testemunhar a sua vocação a Família Marques de Abrantes (Vocação Matrimonial) a Irmã Fernanda da Comunidade Salesiana da Chainça (Vocação Religiosa) e o Padre Diocesano Daniel Almeida, da Sertã (Vocação ao Sacerdócio). Durante pouco mais de hora e meia, “estes vocacionados”, desafiaram e despertaram os jovens para a realidade “Vocação”, “Projecto de Vida” e “Felicidade”.

Com Sínodo dos Bispos a acontecer em Roma, onde a realidade dos trabalhos do Papa Francisco com os Bispos incide sobre a Juventude, a Fé e o Discernimento Vocacional, vive-se um tempo muito rico de esperança e entusiasmo na Igreja. Essa razão conduziu a parte final da tarde, dedicada ao diálogo sobre os jovens na Igreja. Antes do diálogo, foi apresentado os resultados do inquérito do Papa Francisco enviado aos jovens e aos adultos na diocese de Portalegre – Castelo Branco, no final do ano de 2017. Foram os resultados do inquérito aos jovens que deram o ponto de partida ao diálogo entre todos. Neste diálogo estiveram presentes o Bispo Diocesano, D. Antonino Dias, a Joana Serôdio (representante dos jovens portugueses nos trabalhos pré-sinodais em Roma), o Filipe Pires (animador do grupo de jovens da Cidade “Estrela da Manhã”) e do Senhor Baptista (adulto com “história juvenil” na cidade), ambos da Paróquia de São Vicente. Participaram neste diálogo em representação dos vários movimentos juvenis presentes na Diocese de Portalegre – Castelo Branco, o João Paulo (Movimento Mariana Vicentina), o Rui Canatário (Movimento Teresiano de Apostolado), o André Pais (Convívios Fraternos), a Graça Sebastião (Focolares) e a Crisalda Gonçalves (Corpo Nacional de Escutas), estando neste diálogo quase a totalidade dos movimentos juvenis presentes na diocese. Foi uma oportunidade de diálogo sobre a realidade dos jovens na diocese, mas também uma oportunidade de escuta dos jovens que estavam a participar no encontro. O diálogo foi muito interessante, mas “aquela hora foi curta” para tanto o que havia para conversar. No final era unanime: todos queriam mais oportunidades e mais tempo para dialogar. A tarde terminou com a celebração da Eucaristia na Igreja de São Vicente, presidida pelo senhor Bispo D. Antonino.

O encontro terminou à noite com a Vigília de Oração pelos bons frutos dos trabalhos dos Sínodo dos Bispos e pela Juventude. Uma oportunidade de oração em acção de graças pelos 10 anos da presença e Missão do nosso Bispo, D. Antonino Dias, na diocese de Portalegre – Castelo Branco, de oração pelos sacerdotes e pelas vocações, mas também pela generosidade das famílias de acolhimento, que proporcionaram aos jovens um sentir familiar, em redor da mesa do jantar, na partilha do pão, mas principalmente na partilha da alegria cristã. Mesmo sob o receio dos avisos vermelhos e amarelos pela presença da Tempestade Leslie no centro do País, a Vigília da noite foi vivida num ambiente muito intenso e profundo, com os jovens, a comunidade cristã que veio de vários pontos da diocese, e de alguns sacerdotes que se fizeram presentes para rezar e viver com os jovens este tempo tão belo de comunhão.

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sábado, 15 de setembro de 2018

PODEM MANDAR-NOS PARA O CHILINDRÓ!…


PODEM MANDAR-NOS PARA O CHILINDRÓ!…

A História orgulha-se de ter tido grandes líderes, homens humildes e servidores do povo, na verdade e na justiça. Quando eram chamados a exercer esse cargo, não se colocavam em bicos de pés julgando-se os melhores e indispensáveis. Preferiam ter sido esquecidos, julgavam-se incapazes de corresponder e acabaram por ser os melhores de entre os melhores em sabedoria, destreza e responsabilidade política, em humildade e persistência, em honestidade e sentido do bem comum, em serviço despretensioso à causa dos povos. Sentiam-se pequeninos instrumentos de uma Providência que se servia deles para a realização de desígnios que os ultrapassava. Perante esta atitude de verdadeira humildade e de enormes sentimentos de incapacidade, com certeza que eles sentiam o conforto da confirmação do Senhor: “Não tenhas medo! Eu estarei contigo!” E assim, escreveram, a letras de ouro, tantas e tão belas páginas da História, servindo o povo de forma honesta e exemplar, com testemunho de vida austera e sentido da sua origem, missão e fim. Não quero dizer com isto que hoje não exista gente que assim pense e trabalhe. Há, e muita. Também não quero afirmar que outrora os líderes sempre foram justos e bons, e interessados pelo bem-estar do seu povo. Não é verdade, houve de tudo e sempre haverá de tudo. Muito menos quero dizer que os crentes sempre foram honestos e bons governantes e os não crentes nunca foram bons. Houve e há crentes fraca rês que continuam a governar como se fossem donos e senhores de tudo e de todos, sentindo-se autorizados a perseguir, matar e destruir em nome de Deus!... Sempre houve e há não crentes que primam pela honestidade e sentido do bem comum, não estão longe do Reino de Deus! Sabemos que a História não é necessariamente um progresso para o melhor e para o bem, como afirmava São João Paulo II. É um acontecimento de liberdade com toda a riqueza, caprichos e ironias que isso engloba. Sobretudo quando ignoramos os êxitos e fracassos do passado, quando pensamos ter descoberto a pólvora no presente, quando presumimos construir o futuro só e apenas com as nossas ideias e projetos que reputamos de geniais.
Costuma dizer-se que o poder e a ganância são as doenças mais contagiosas do mundo, em todos os setores da sociedade, inclusive nas religiões. Estes doentes, porém, quando de braço dado com o esvaziamento de valores e sem respeito pelos outros, dificilmente se aguentam de pé, são como saco vazio. Quando caem na cama ou na lama desses vícios, mesmo que se queiram erguer levando a mão a um qualquer andarilho que se preste ou a generosas ajudas que, interesseiras, se cheguem à frente, o vírus, cada vez mais forte e resistente, também vai contagiar estes reputados apoios. Não têm resistências, não estão vacinados, vão atrair-se mutuamente, vão tornar-se cúmplices!... É o que vemos!...
Alguém, há dias, por este meio de comunicar, lembrava o corrupto e meritíssimo juiz romano que vendia as sentenças a quem melhor lhas pagasse. Chamava-se Lucius Antonius Rufus Appius e assinava as sentenças com as iniciais do seu nome: L. A. R. Appius. Atento e perspicaz como sempre, o povo, juntando essas iniciais, logo batizou esse senhor e os seus colegas de ofício com o nome de Larápios. Isto, porém, aconteceu há mais de dois mil anos quando o mundo carecia de tantos avanços civilizacionais, de tanta acumulação de saberes, de tanta instrução, cultura, tecnologia, percursos académicos e mentes expeditas em habilidades altruístas. Hoje, crescidos em todas estas prerrogativas e prosápias, hoje, isso, larápios, nem pensar…seria até contradizer a evolução da espécie e provocar as diatribes de quem, alfinetados em igual honestidade e acossados por ficarem ao léu, logo se esmerariam em fazer crer que isso não passava de cabalas invejosas, mesquinhas e destruidoras!...
Há pessoas com muito poder, sim, há. Podem até mandar-nos para o chilindró ou fazer-nos a vida cara. Mas, de facto, não têm qualquer espécie de autoridade moral, ninguém acredita nelas. São incoerentes na vida, na palavra e na ação. A par, conhecemos pessoas sem qualquer poder nas mãos mas com uma autoridade moral que nos impressiona. É que o poder recebe-se pelo voto ou doutra forma convencionada, vem de fora. A autoridade nasce dentro, conquista-se pela forma como se vive, pensa, ama e age, servindo com empenho e alegria, ajoelhando-se e lavando os pés às dores do mundo!
Pelos vistos, muitos romanos de antes de Cristo morreram convencidos que existia, nesta parte mais ocidental da Ibéria, um povo muito estranho que não se governava nem se deixava governar. Eu não vou por aí. Acredito no povo e acredito naqueles líderes que, sem serem escravos de ideologias inúteis, sem se embrulharem em jogos de interesses pessoais ou de grupo, são capazes de aliar em si o poder e a autoridade, a verdade e a justiça, a competência na humildade e um apurado sentido do bem comum, sendo eficazes, gerando confiança e empatia.
A gente do norte, por ironia, diria que líderes assim só será possível encontrá-los em Barcelos. Os desta zona do sul afirmariam que talvez só no Crato ou em Estremoz. Os do centro do país, não sei, mas talvez dissessem que só se os houvesse em Tondela, lá para os lados de Molelos, por exemplo. É que nestes lugares há olarias, cozem bonecos! Eu, porém, como disse, não vou por aí, não, não sou pessimista. Aprecio a nobre arte da política levada a cabo por gente humilde e competente, responsável e com verdadeiro sentido do bem comum, servindo na verdade e na justiça, com alegria e esperança. Admiro quem, apesar das dificuldades, serve a política com esta nobreza e dedicação. Sei quanto o povo precisa de quem o ajude e estimule a ter mais e melhor qualidade de vida em todas as dimensões da sua existência.

Antonino Dias
Portalegre, 14-09-2018.