quinta-feira, 18 de junho de 2015

PAPA PUBLICA ENCÍCLICA “LAUDATO SI” SOBRE O CUIDADO DA CASA COMUM





“Laudato si” (louvado sejas) é o nome da encíclica que o Papa Francisco acaba de publicar nesta quinta feira, 18 de junho, sobre o cuidado da casa comum, a ecologia.
Partindo da interrogação sobre o que está a acontecer ao mundo em que vivemos, o Papa Francisco desenvolve a sua reflexão a partir de algumas linhas de força: «a relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta, a convicção de que tudo está estreitamente interligado no mundo, a crítica do novo paradigma e das formas de poder que derivam da tecnologia, o convite a procurar outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a necessidade de debates sinceros e honestos, a grave responsabilidade da política internacional e local, a cultura do descartável e a proposta dum novo estilo de vida » (nº 16).
A ecologia ambiental (cuidado da natureza) e a ecologia humana (cuidado das acções e relações) implicam-se, por isso, mutuamente. O Papa pede, pois, que haja uma real mudança de estilos de vida (nº 203) e que se ultrapasse a cultura que desvaloriza a condição humana e que desvaloriza e destrói os recursos naturais. «Uma ecologia integral é feita também de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo» (nº 230). A Encíclica “Laudato si” desenvolve-se em seis grandes capítulos: I - O que está a acontecer à nossa casa; II – O Evangelho da Criação; III – A raiz humana da crise ecológica; IV – Uma ecologia integral; V – Algumas linhas de orientação e acção; VI – Educação e espiritualidade ecológicas.
No entender do Papa Francisco, toda a ecologia reintegra o homem na natureza, reintegra no mundo, no seu ecossistema. E toda a ecologia lhe pede responsabilidade para que o mesmo mundo seja sempre habitável em recursos e relações. A existência humana, de facto, baseia-se em três grandes relações fundamentais e estreitamente interligadas: com Deus, com o próximo, com o mundo (a Terra).
É a própria preocupação ecológica que acaba por dar origem a uma série de estudos e análises quantitativas que conduzem à consciência da limitação e finitude dos recursos naturais do ecossistema e da implicação humana em todo o processo. O esgotamento dos recursos naturais, a energia, as matérias primas, a água, tudo implica um novo modo de relacionamento com a natureza que é também uma nova concepção do próprio homem. Para que a vida humana sobre a Terra seja possível e tenha futuro, é preciso ter em conta o carácter finito de muitos recursos e distinguir as energias renováveis das não renováveis. O homem é chamado a tomar consciência da finitude do mundo. Renunciar a investir nas pessoas é autêntico suicídio. E, por isso, toda a lesão da solidariedade e da amizade cívicas provocam danos ambientais (nº142).
A perspectiva da natureza e da condição humana como património valioso ultrapassa assim, em absoluto, a concepção puramente funcional da natureza. Não sendo descartável, o Homem é o valor central. Não mero usufrutuário mas também cuidador. Significa que a situação actual tem necessárias implicações éticas e comportamentais.
Talvez como nunca, a humanidade tenha hoje “capacidade” para uma auto-destruição total. Mas, também talvez como nunca, tenha também em mãos a possibilidade da opção pela preservação do mundo e da humanidade bem como o seu próprio desenvolvimento com qualidade. É a corrupção de consciências e de instituições que teima em esconder o verdadeiro impacto ambiental de alguns projectos humanos em troca de lucros parciais e favores ocasionais imediatos (Cf. Nº 182). Os problemas ecológicos assumem, então, formas que são verdadeiras ameaças à vida humana.
O factor responsabilidade vem, pois, interrogar os indivíduos e as instituições sobre a necessidade de acções e comportamentos que sejam compatíveis com a vida autenticamente humana. A ecologia pede que se ultrapasse a cultura do “descartável” do humano e dos recursos. E pede uma ética da responsabilidade. O Papa di-lo claramente. São necessárias opções corajosas (ao nível individual e das instituições) para não destruir aquilo que é o grande dom de Deus e a casa comum da humanidade. Não é, pois, novidade que a Igreja, e particularmente o Papa Francisco, se preocupem com a ecologia e a promovam como experiência, contexto e horizonte da existência humana e da reflexão sobre o seu valor inviolável.
Num momento em que se prepara a cimeira de Paris na qual se debaterão temas atinentes ao novo acordo global sobre o clima centrado na redução de emissões para limitar o aumento médio de temperatura em 2 graus, e num tempo em que a experiências de férias convida muitos à contemplação da natureza, fica o convite à leitura integral do texto do Papa Francisco.