Com as iniciativas que as instâncias próprias acharem por bem levar a cabo, vamos viver, de 11 a 18 deste mês de novembro, a Semana Nacional dos Seminários, sob o lema “Formar discípulos missionários”. Ao longo da história, sempre houve gente livre, disponível e pronta para continuar a obra de Jesus, com entusiasmo feliz e empenhado. Por isso mesmo, nunca faltou à evangelização a capacidade de contornar as dificuldades, os solavancos e os caprichos de cada tempo. Os tempos e as circunstâncias mudam, é verdade, mas a juventude também é fruto de cada tempo e das suas circunstâncias. Sempre houve e haverá gente com muita garra, com muita genica e generosa dedicação à primeira das principais causas do bem comum. Nem sempre, mas regra geral, o primeiro passo para abraçar o gosto pela evangelização dá-se no seio das famílias, dos movimentos, das instituições, das comunidades, dos serviços e dos grupos de ação cristã. Sim, é aí, onde existe uma intensa vida fraterna, onde há caminhos exigentes de espiritualidade e oração, de valorização da Palavra de Deus, de dinâmica sacramental, de experiências de serviço sobretudo aos pobres e de estímulo ao protagonismo juvenil, é aí que se encontram as grandes oportunidades para fazer um caminho mais forte de aproximação à fé e às necessidades da Igreja e do mundo. Se verdadeiramente acompanhados, muitos jovens direcionam melhor as antenas para captar as ondas do Espírito e as surpresas de Deus, interpretam com outra sabedoria os sinais dos tempos e os da própria vida e decidem marcar a diferença fazendo opções de maior exigência. A pastoral vocacional, de braço dado com a pastoral juvenil, é a alma de qualquer evangelização e de qualquer pastoral. As diferentes vocações eclesiais são expressões por meio das quais a vocação batismal se torna um verdadeiro sinal do Evangelho no seio das comunidades, são formas de seguir e testemunhar Jesus, fazem parte da natureza missionária da Igreja.
Quando existe a cultura da oração
pessoal e comunitária, quando se vive verdadeiramente inserido na comunidade
cristã ou noutros ambientes de fé, quando há uma pastoral vocacional de
qualidade, mais facilmente alguém perceberá o Senhor a tocar-lhe no ombro e a
segredar-lhe, com ternura, aos ouvidos do coração: - Escuta... Eu estou à porta
e bato… vem... segue-Me! - Este convite de Jesus, se é dirigido a todos e a
cada um dos batizados, sempre há, como sempre houve, quem o ouça e deseje viver
de uma forma mais radical no ministério ordenado ou na vida consagrada. Os
jovens, que são a paz em movimento, continuam a ser “revolucionários”,
criativos e generosos como sempre o foram. E se são imprescindíveis para o
rejuvenescimento dos dinamismos sociais, não o são menos para rejuvenescer o
rosto belo da Igreja. Ora, como cireneus desta caminhada de formação dos que
aceitam este desafio do Senhor, estão, de facto, os Seminários, não os
edifícios, claro, embora também façam falta, mas as comunidades educativas.
Nesta Semana dos Seminários, temos muito presente quem neles dedica a sua vida
à formação dos alunos, os alunos que os frequentam, as suas famílias, os
colaboradores, as comunidades paroquiais, e os benfeitores que rezam, estimulam
e partilham os seus bens com os custos inerentes à formação de quem se prepara.
Sem insinuar visões redutoras ou erradas
sobre o ministério ordenado, todo o processo educativo para o sacerdócio
ministerial procura acompanhar e ajudar os candidatos a que, em total
liberdade, possam reconhecer o amor gratuito de Deus e formar o próprio coração
à imagem do coração de Cristo, o Bom Pastor. Ele não veio para ser servido, mas
para servir, comoveu-se diante das necessidades humanas, foi à procura das
ovelhas perdidas, ofereceu a Sua vida por elas. Neste delicado processo
formativo, processo que há de continuar presente em toda a vida dos sacerdotes
quer na obediência apostólica profundamente inserida na unidade do presbitério
e disponível para as necessidades e exigências do povo de Deus, quer na pobreza
evangélica em vida simples e austera, quer em castidade no celibato como dom de
si em Cristo e com Cristo à Sua Igreja (cf. PdV28-30), neste delicado processo
formativo, dizia eu, há, pelo menos, quatro dimensões que interagem
simultaneamente: a dimensão humana, que representa a base necessária e dinâmica
de toda a vida sacerdotal; a dimensão espiritual, que contribui para
caraterizar a qualidade do ministério sacerdotal; a dimensão intelectual, que
oferece os necessários instrumentos para compreender os valores próprios do que
é ser-se pastor; a dimensão pastoral, que habilita a um serviço eclesial
responsável e profícuo (cf. RFIS89). Para que tudo resulte bem neste período
transitório mas decisivo para o futuro, não é tempo de acentuar muito aquilo
que, mais tarde, se virá a fazer, isto é, a tarefa evangelizadora, embora seja
critério de qualidade a ter em conta que haja entusiasmo por ela como pessoas
enamoradas por Cristo. Este tempo, o tempo do Seminário, deve ser sentido e
vivido sobretudo como um tempo de sério e verdadeiro crescimento pessoal, a
todos os níveis da formação integral, para, depois, enfrentar a vida e a missão
com responsabilidade e protagonismo saudável e contagiante, gerando vida e
esperança. O mundo é exigente, competitivo e complexo, exige humildade e saber
dialogar com a cultura e a diversidade de forma competente e aberta, exige
coerência de vida e tantas vezes saber perder para ganhar. Só «evangelizadores
com espírito» testemunharão, na alegria do Evangelho, a santidade e a
misericórdia de Deus.
Embora sabendo que “o principal agente
da formação sacerdotal é a Santíssima Trindade, que plasma cada seminarista
segundo o desígnio do Pai, seja através da presença de Cristo na sua Palavra,
nos sacramentos e nos irmãos da comunidade, seja através da multiforme ação do
Espírito Santo” (RFIS125), sabendo isso, não podemos terminar sem deixar uma
palavra de muita gratidão e da maior estima para toda a comunidade académica,
sim, mas sobretudo para a Equipa de Formadores de cada um dos Seminários de
Portugal que colaboram e testemunham os valores próprios do ministério nesta delicada
missão da formação sacerdotal.
Antonino Dias
09-11-2018
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