“Laudato si” (louvado sejas) é o nome da encíclica
que o Papa Francisco acaba de publicar nesta quinta feira, 18 de junho, sobre o
cuidado da casa comum, a ecologia.
Partindo da interrogação sobre o que está a
acontecer ao mundo em que vivemos, o Papa Francisco desenvolve a sua reflexão a
partir de algumas linhas de força: «a relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta, a convicção
de que tudo está estreitamente interligado no mundo, a crítica do novo paradigma e das formas
de poder que derivam da tecnologia, o convite a procurar outras maneiras de entender a economia
e o progresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a necessidade
de debates sinceros e honestos, a grave responsabilidade da política internacional e local,
a cultura do descartável e a proposta dum novo estilo de vida » (nº 16).
A ecologia
ambiental (cuidado da natureza) e a ecologia humana (cuidado das acções e
relações) implicam-se, por isso, mutuamente. O Papa pede, pois, que haja uma
real mudança de estilos de vida (nº 203) e que se ultrapasse a cultura que
desvaloriza a condição humana e que desvaloriza e destrói os recursos naturais.
«Uma ecologia integral é feita também
de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da
exploração, do egoísmo» (nº 230). A Encíclica “Laudato si” desenvolve-se
em seis grandes capítulos: I - O que está a acontecer à nossa casa; II – O
Evangelho da Criação; III – A raiz humana da crise ecológica; IV – Uma ecologia
integral; V – Algumas linhas de orientação e acção; VI – Educação e
espiritualidade ecológicas.
No entender do Papa
Francisco, toda a ecologia reintegra o homem na natureza, reintegra no mundo,
no seu ecossistema. E toda a ecologia lhe pede responsabilidade para que o
mesmo mundo seja sempre habitável em recursos e relações. A existência humana,
de facto, baseia-se em três grandes relações fundamentais e estreitamente
interligadas: com Deus, com o próximo, com o mundo (a Terra).
É a própria
preocupação ecológica que acaba por dar origem a uma série de estudos e
análises quantitativas que conduzem à consciência da limitação e finitude dos
recursos naturais do ecossistema e da implicação humana em todo o processo. O
esgotamento dos recursos naturais, a energia, as matérias primas, a água, tudo
implica um novo modo de relacionamento com a natureza que é também uma nova
concepção do próprio homem. Para que a vida humana sobre a Terra seja possível
e tenha futuro, é preciso ter em conta o carácter finito de muitos recursos e
distinguir as energias renováveis das não renováveis. O homem é chamado a tomar
consciência da finitude do mundo. Renunciar a investir nas pessoas é autêntico
suicídio. E, por isso, toda a lesão da solidariedade e da amizade cívicas
provocam danos ambientais (nº142).
A perspectiva da
natureza e da condição humana como património valioso ultrapassa assim, em
absoluto, a concepção puramente funcional da natureza. Não sendo descartável, o
Homem é o valor central. Não mero usufrutuário mas também cuidador. Significa
que a situação actual tem necessárias implicações éticas e comportamentais.
Talvez como nunca, a
humanidade tenha hoje “capacidade” para uma auto-destruição total. Mas, também
talvez como nunca, tenha também em mãos a possibilidade da opção pela
preservação do mundo e da humanidade bem como o seu próprio desenvolvimento com
qualidade. É a corrupção de consciências e de instituições que teima em
esconder o verdadeiro impacto ambiental de alguns projectos humanos em troca de
lucros parciais e favores ocasionais imediatos (Cf. Nº 182). Os problemas
ecológicos assumem, então, formas que são verdadeiras ameaças à vida humana.
O factor
responsabilidade vem, pois, interrogar os indivíduos e as instituições sobre a
necessidade de acções e comportamentos que sejam compatíveis com a vida
autenticamente humana. A ecologia pede que se ultrapasse a cultura do
“descartável” do humano e dos recursos. E pede uma ética da responsabilidade. O
Papa di-lo claramente. São necessárias opções corajosas (ao nível
individual e das instituições) para não destruir aquilo que é o grande dom de
Deus e a casa comum da humanidade. Não é, pois,
novidade que a Igreja, e particularmente o Papa Francisco, se preocupem com a
ecologia e a promovam como experiência, contexto e horizonte da existência
humana e da reflexão sobre o seu valor inviolável.
Num momento em que se prepara a cimeira de Paris na
qual se debaterão temas atinentes ao novo acordo global sobre o clima centrado na redução de emissões para
limitar o aumento médio de temperatura em 2 graus, e num tempo em que a
experiências de férias convida muitos à contemplação da natureza, fica o
convite à leitura integral do texto do Papa Francisco.