Sobre as bisbilhotices, o papa Francisco já falou em várias ocasiões: em sermões
na Casa Santa Marta, no encontro com a Cúria Romana em 21 de Dezembro, pedindo
"objeção de consciência" contra elas. A mesma exortação foi feita
novamente na homilia da missa de hoje, durante a qual, além das bisbilhotices, o papa
alertou contra duas outras más atitudes: a
inveja e o ciúme.
Este
"tripé" de maledicência, ressentimento e rivalidade é, de acordo com
o Santo Padre, o que "destrói as comunidades cristãs". Não por acaso,
o papa o recorda no sexto dia da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos,
depois de denunciar, ontem, o "escândalo" das "divisões"
que ainda existem entre os cristãos.
Nesta
reflexão, Francisco partiu da primeira leitura do livro de Samuel, que fala da
exultação dos israelitas pela vitória sobre os filisteus, graças à coragem e
astúcia do pequeno David. Nem todos, no entanto, elogiam o jovem herói. Aquele
que para as mulheres é motivo de alegria, para o rei Saul é fonte de tristeza e
de inveja. "A grande vitória começa a se tornar derrota no coração do
rei", disse o papa: naquele coração, tinha entrado o "verme do ciúme
e da inveja".
É natural
traçar um paralelo com Caim, cuja alma foi corroída pela amargura em relação com
o irmão Abel. E, como aconteceu com os primeiros irmãos da história, Saul
também decidiu que a melhor solução era matar David. O rei, explicou o
pontífice, "em vez de louvar a Deus como as mulheres de Israel por esta
vitória, prefere se fechar em si mesmo, se amargurar" e "cozinhar os seus sentimentos no caldo dessa
amargura".
Isto é o que
"o ciúme faz em nosso coração", advertiu o Santo Padre: "é uma
ansiedade ruim, que não tolera que um irmão ou irmã tenha algo que eu não
tenho". Sem percebermos, "ele nos leva a matar (...) Foi por essa
porta, pela porta da inveja, que o diabo entrou no mundo", lembrou o papa.
"O
ciúme e a inveja abrem as portas para todas as coisas ruins. E dividem a
comunidade". Quando uma comunidade cristã "sofre de inveja, de ciúme,
ela termina dividida: um contra o outro. É um veneno forte. É o veneno que
encontramos na primeira página da Bíblia com Caim".
Há dois
sintomas "muito claros" desta doença que afeta o coração humano: a
"amargura" e as bisbilhotices. "A pessoa invejosa, a pessoa
ciumenta, é uma pessoa amarga. Ela não sabe cantar, não sabe elogiar, não sabe
o que é alegria, está sempre olhando para "o que o outro tem e eu não
tenho". E isso a leva à amargura, uma amargura que se espalha por toda a
comunidade".
Pessoas
assim "são semeadoras de amargura. Um não tolera que o outro tenha alguma
coisa.
A “solução”,
para elas, é rebaixar o outro, “para que eu fique um pouco mais alto”. E a
ferramenta para isso é a bisbilhotice. “Olhem bem e vão ver que por trás da bisbilhotice
sempre existe ciúme e inveja”.
As bisbilhotices
"são as armas do diabo", reiterou o bispo de Roma: "Quantas
belas comunidades cristãs foram destruídas pelo ressentimento e pelas bisbilhotices
que entraram na alma de um único membro da comunidade! Não é exagero: uma
pessoa que está sob a influência da inveja e do ciúme mata", disse o papa.
E o apóstolo João também diz: "Todo aquele que odeia o seu irmão é um
assassino", e "o invejoso, o ciumento, começa a odiar o seu irmão".
"Rezemos
pelas nossas comunidades cristãs, pelo nosso clero, para que esta semente da
inveja não seja semeada entre nós, para que a inveja não tenha espaço no nosso
coração, no coração das nossas comunidades, e para podermos seguir em frente no
louvor ao Senhor, louvando o Senhor com alegria. É uma grande graça, a graça de
não cair na tristeza, no ressentimento, na inveja e no ciúme".
Papa Francisco, Roma, 23 de Janeiro de 2014
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